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Manuel Ferreira, com oitenta e seis anos anos e natural de Castelo de Paiva foi entrevistado no dia 27 de julho de 2022.
Começou por nos dizer que os seus primeiros anos de vida foram marcados pelas várias mudanças de localidade, uma vez que o emprego do seu pai estava relacionado com a construção de estradas e, por isso, “ conforme a estrada vinha rompendo, nós mudávamos as barracas”.
Enquanto observava e auxiliava o seu pai, aproveitava os momentos para aprender com ele os diferentes ofícios, afirmando: “aprendi a ver”. Assim, no decorrer da sua vida desempenhou serviços como o transporte de carvão para as grandes cidades (como por exemplo, Porto e Braga) ou ainda “fazia de mecânico. Andava a trabalhar nos camiões:
(onde) reparava os camiões e pintava, máquinas e tudo”.

Disse-nos, também, que durante quarenta anos trabalhou na Central, onde uma das tarefas executadas passava por “tirar as cinzas”. Quando “acabou a central, eu fui então (…) à Holanda buscar o camião com uma máquina em cima” mas, para que isso acontecesse, teve “que ir para a escola de adultos (…) tinha de ter o exame da quarta classe e eu aos oito anos já tinha o exame. E foi o que me safou…a minha infância foi assim”.
Neste sentido, questionado sobre a sua infância, refere que os seus dias eram quase sempre a trabalhar ou a ajudar o seu pai, pelo que não sobrava muito tempo para a brincadeira e que, por vezes, brincava com os seus vizinhos da Estação. Além disso, recorda-se de jogarem ao “pião de Inverno e, de verão, ia-se para o Arda ao banho”.
Partilhou connosco uma das histórias que mais se recorda, contando-nos o dia em que:

“a minha mãe deixou-me lá tudo prontinho para eu fazer o comer para os meus dois irmãos que tinha em casa (...)”. Contudo, ao encontrar umas rodas de madeira, decidiu fazer uma carroça, juntando-lhes a “madeira que tinha aí para cozinhar, depois comecei a andar para baixo e para cima, até que chegou a minha mãe…ela pegou na carroça, rachou-a, e fez o tacho”. No final sorriu, dizendo: “uma pessoa com trabalho e tanto
gosto naquilo…”.
Relativamente às romarias e festas da aldeia, relembra que “a Senhora das Amoras para mim era uma alegria, era o entretenimento que a gente tinha aqui!”, sublinhado que nos dias de hoje “é muito diferente! Nós na véspera da Senhora das Amoras, ou antes um dia ou dois, não se dormia aqui em casa…era pessoal a passar por aqui (rua) acima a cantar e a fazer barulho…era uma senhora festa! E pelo São Domingos a mesma coisa”.
Aclarou que tal acontecia “porque andava a guerra em Angola e a família dos militares que iam lá para fora, faziam promessas ao São Dominguinhos”.
Menciona que o rio era a sua perdição e, aos domingos “fazíamos o tacho e íamos pelo rio acima, até onde calhava", passando o dia em família (tal como representa a imagem 1, fotografia que partilhou enquanto conversávamos). Além disso, diz-nos com orgulho que “pescava muito peixe e às vezes tirava muge (peixe do rio) de quilo”.

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Por fim, quando questionada a sua opinião relativamente à geração atual, o senhor Manuel considera-a “muito melhor” do que a de antigamente, acrescentando: “eu nasci para trabalhar (…) e vós?”.
Finalizada a entrevista, mostrou-nos o carro que tem desde os tempos em que “trabalhava com a Volvo (…)”, automóvel que o surpreendeu quando o viu, pois “tava tão jeitoso, pintadinho…” e ainda hoje é o dia que continua a ter “gosto nele”.

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