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No dia 27 de julho de 2022, entrevistamos a Dona Josefina de Sousa Ferreira, nascida
na Mina da Pedra, em Pedorido e com 75 anos.
Contou nos que a sua infância passava por, “de manhã ia para o monte (…) buscar
lenha” com a sua mãe e “depois vinha e ia para a escola”.
Depois, cresceu e começou a ir “lavar para o rio, com a bacia à cabeça” e ia corar a
roupa lá. Quando saíam de casa já levavam o lavadouro, ”que era feito de madeira”.
Falando das brincadeiras de criança, lembra-se do jogo do botão, do peão e de quando
se ia buscar lenha, deitava-se os eucaliptos a baixo e “fazia se uns carros com as
cascas“ e à beira das minas tinha um sítio onde descarregavam o entulho e com as
cascas deslizavam por lá.
Contou nos que “não havia brinquedos, eramos nós quem fazia os brinquedos” e
explicou-nos como fazia as suas bonecas: “a cabeça era uma meia, enchíamos o pé da
meia para fazer a cabeça e o corpo fazíamos com a cabeça para baixo, a gente
apertava com a linha o pescoço, depois cortava a meia na ponta de baixo e fazia as
pernas e os braços, depois a gente ajeitava um bocado de outra meia e cozíamos (…)
eramos nós também que fazíamos os vestidos para as bonecas e eramos capazes de
descoser um botão da nossa roupa para meter no vestido da boneca”. Quanto aos
moços, estes faziam as bolas também de meias, as “meias é que pagavam”.
Disse-nos também que começou muito nova a aprender a costura: “ainda não tinha 11
anos quando a minha mãe me pôs a aprender a costura”, pois como era a mais velha de
5 filhos, a mãe colocou-a a aprender a costurar para ela remendar a roupa dos irmãos:
“comprou me uma maquina e era o que eu fazia”. Quando já tinha 15 anos, perto dos
16, foi trabalhar para Germunde, para casas dos empregados dos escritórios e passado
três anos foi para as Cribas.
Relativamente à escola, recorda-se de levar uma lousa num saco de sarapilheira, com
um giz e um pano para limpar da lousa. Admite que “não gostava muito da escola”,
mas fez até à 3ª classe e depois fez “a 4ª classe de noite, na escola dos adultos”.
Quanto às festas, ias às festas de Germunde: a de Santa Bárbara quando era pequena e
da festa de Santo António em Pedorido, que era uma fanfarra. As festas tinham ranchos,
e bailes com “gaitas de lábios”. Dona Josefina gostava de ver dançar mas nunca
dançou pois achava que não tinha jeito.
Quando questionada sobre a nova geração disse que “há mais desenvolvimento”, ainda
assim, considera que “antigamente havia mais convívio (…) e agora não se vê isso,
agora as pessoas já se isolam mais”. Lembra-se de ir para o choupal e juntar-se por lá
com as amigas, ou de ir com os colegas ver o Pejão jogar, mas “agora já não se vê
tanto isso, agora é diferente”.
Falando ainda da geração atual, recorda-se que, quando a mãe fazia o pão “tinha de ir a
mais ela buscar lenha para cozer o pão, para 8 dias, e agora ninguém quer (o pão) de
um dia para o outro.”. Nesses dias, ia também a uma loja comprar uma garrafa de
vinho para o pai quando este chegasse a casa do trabalho, e lembra-se de, pelo caminho
“meter o dedo no gargalo e lambia”.
Era uma vida diferente, continuou, “as pessoas davam muito valor às coisas (…), não
se tinha nada aos olhos de agora”, por isso é que acha que “se se levasse a vida como
se levava antigamente, havia rios de dinheiro”.
Tem ainda memória de como era o seu calçado na altura, usava “umas soquinhas de
madeira e a sola, para não se romper, era feita com os pneus das bicicletas”
Tem a certeza que as pessoas antigamente eram mais felizes porque “havia pouca coisa,
mas as pessoas eram mais abertas umas com as outras, conversava-se mais, estavam
fartas de trabalho mas (ainda assim) cantava-se no monte”
Por último, escolheu partilhar connosco uma canção que a mãe costumava cantar:

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“No cemitério de além
Uma criança chorava
Indo contando à mãe
Os tormentos que passava
Mãezinha do coração
Tem pão mas não mo quer dar
Um pai que era tão bom amigo
Nunca mais me voltou a beijar
Mãezinha, mãe adorada
Ouve queixumes de um filho teu
Que tem por beijos, pancada
De outra mãe que o pai lhe deu”

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Josefina

 

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