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Joaquina Vieira Gonçalves, com 86 anos e natural de Oliveira do Arda foi entrevistada
no dia 20 de julho de 2022.
Começou por nos dizer que sempre viveu e gostou de viver em Oliveira do Arda, tendo
ido algumas vezes para Viana do Castelo com os seus patrões, quando estes iam de férias,
afirmando: "conheço mais Viana do Castelo do que o Porto”.
Quando questionada sobre a sua infância, partilhou que foi passada na Arda, a ir às presas.
Ia buscar água ao fontanário, porque "não tinha água em casa" e com essa água lavava a
louça: "Às vezes lavava a roupa no rio, primeiro a branca punha-a a corar, corar era
estender (a roupa) numas pedrinhas que fossem limpinhas, (...) e punha-a a secar no
monte". Lembra-se também de ir ao rio, que "antigamente era muito baixinho" e de ir
com a mãe “(...) fazer a limpeza ao posto da guarda, esfregar o chão de joelhos (...)".
Contou-nos uma vez em que apanhou “uma tareia” da mãe: “Fui lavar à Arda a mais a
minha mãe, e a minha mãe trazia a farinha para cozer, ia se aos moinhas buscar a farinha
para cozer o pãozinho para ter durante a semana então aproveitava na segunda-feira
para lavar a roupa. Antigamente não se lavava todos os dias, a gente andava quase a
semana toda com a roupa, não é como agora (...) e uma vez, nas linhas dos vagões, que
vinha do Fojo para Germunde, à beira da cabine, veio uma rajada de vento e a roupa
vinha muito lavadinha, quase seca" e a roupa ficou cheia de carvão, então "eu fui com a
bacia e toca a tirar aquele carvão, mas o carvão não saía (...) eram umas camisas dos
meus irmãos brancas e era a roupa de domingo (...) a gente às vezes tirava a roupa
quando saía e punha-a muito dobradinha que era para o outro ir à missa e vestir". Como
não conseguiu tirar o carvão da roupa, quando a sua mãe chegou a casa, bateu-lhe: "(...)
a minha mãe chega, tinha uns 10 anos e que coça que ela me deu com a roupa".
Além disso, recorda-se de que “antigamente, os colchões eram de palha e a gente ia
buscar (o que as pessoas) chamavam de colmeiros de palha ao lavrador onde eles
tiravam o centeio, malhavam o centeio e faziam os molhinhos (de palha) e a gente
comprava".
Falou também com muito carinho dos seus vizinhos: “Eramos oito de cada lado: oito de
nossa casa, oito dos meus sogros, oito da vizinha do lado e juntávamo-nos todos aqui,
era uma festa, a brincar todos uns com os outros, tudo com muito respeito (...) dávamonos
todos muito bem" e, das suas brincadeiras de criança, lembra-se de fazer uma boneca
com a sua vizinha.
Relativamente às festas na altura, falou que "(...) as festas eram bonitas, havia noitadas,
havia aqueles senhores antigos a tocar viola, concertina, gaitas de barro; juntavam um
bando de crianças, novitos e andavam à volta da capela a tocar; botavam o fogo em S.
Domingos e na Senhora das Amoras (...) era muito diferente, se os meus pais voltassem
cá e vissem isto... é muito diferente".
De seguida, perguntamos-lhe como tinha sido a sua educação: “A minha educação foi
muito boa, a minha mãe pôs me a aprender a doutrina (...) e a minha educação foi essa,
ir à comunhão aprender a doutrina”. Conta-nos que aprendeu a rezar o Pai Nosso, o Ave
Maria, o Ato de Fé, a Confissão, o Credo, o Mandamento de Deus e que fez a comunhão
e as nove sextas-feiras. Fez isto enquanto não sabia ler, mas D. Joaquina queria aprender,
então a sua mãe colocou-a, juntamente com as suas amigas, numa senhora que,
supostamente, ensinava as letras. No entanto, esta pedia-lhes para irem ao monte, buscar
lenha, gravetos e pinhas, pelo que D. Joaquina achou que não era justo a sua mãe estar a
pagar a uma senhora, sendo que esta não aprendia nada, pois quando esta regressava do
monte e “chegasse a fazer duas letras, estava na hora de ir embora”.
Depois disso, foi trabalhar para uma senhora, para tomar conta dos filhos, lavar e passar
a ferro e lembra-se também de ir trabalhar apenas um dia para uma outra senhora, que
tinha a sua filha doente, e D. Joaquina tinha de cozinhar para a família, no entanto, apenas
durou um dia porque teve de cozinhar o arroz com vinho e o cheiro deixava-a mal
disposta.
Por último, relativamente à nossa geração, D. Joaquina disse: “(...) se vocês se portarem
bem, muito bem, se vocês se portarem mal, a culpa é vossa”. Diz também que a geração
de agora é muito diferente, pois “(...) antigamente não tinham televisão, telemóvel, rádio
(...)" e agora há tudo. Deseja também que os seus sejam “homenzinhos, que aprendam
para saber levar a vida, que Deus os guie para o bom caminho e que tenham sorte em
tudo (...)” e saibam viver e saber estimar.

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