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Emília Soares de Sousa Faria, com setenta e nove anos, foi entrevistada no dia 26 de julho de 2022. Nascida a 21 de março de 1943, no lugar de Oliveira do Arda.
Começou por partilhar memórias do seu passado relativamente à infância, revelando-nos que “a minha infância foi boa, mas tive de trabalhar (…) para o campo”. À medida que ia crescendo, as obrigações passaram a ser mais duras e exigentes, passando a “acartar madeira dos montes, andei em São Domingos a partir calhau”. Apesar dos dias trabalhosos que enfrentava, esta acredita que “não era assim nenhuma escravatura”.
Anos mais tarde, Emília andou “em algumas casas a trabalhar antes de ir para as Fontainhas, para o Senhor Tyssen”, este que seria o seu trabalho mais duradouro. Foi lá que desempenhou tarefas domésticas na casa do sobrinho de Jean Tyssen, no entanto, embora o poder que esta família representava, o senhor Pierre, não tinha nada a ver com a empresa, (apenas) fazia parte…” e, por isso, não tinha tantas regalias ou direitos como as trabalhadoras da Empresa.
Ao recordar alguns momentos enquanto trabalhava na Casa, sorriu ao partilhar uma história, dizendo-nos: “eu ia com eles para as férias para Estoril / Cascais (…) eles tinham uma casa, com piscina e tudo”. Apesar do esforço da Madame – “ó Mila, eu vou lhe comprar um fato de banho!” – Emília, não gostava de praia nem de piscina, afirmando “posso molhar os pés na areia, mas de resto…”. Assim sendo, mesmo negando esta oferta, deslocaram-se a uma loja e compraram o fato de banho, que “nem tão pouco o vesti!!”

. Acrescentou, ainda, que “naquela altura usava-se os fatos-de-banho, não era muito os biquínis”.
Relembra, assim, a gentileza dos seus patrões e da liberdade que lhes era dada em determinados momentos, “a gente ia para a piscina, eles deixavam! (…) Foram uns patrões maravilhosos!”. Ao ser rodeada por este espírito acolhedor e seguro, Emília conheceu Manuel, “jardineiro no senhor Tyssen”, aquele que iria ser o amor para o resto da sua vida.
Relativamente à vida que levava fora deste contexto, com o pouco que ganhava “naquela altura ganhava duzentos escudos” que, posteriormente, tinham de ser entregues ao seu pai para ajudar a sustentar a sua família, sendo que “era a filha mais velha”, tendo-lhe sido atribuída a responsabilidade de ajudar economicamente em casa, bem como os seus irmãos.
Além disso, “vinham muitas pessoas estrangeiras passar o fim-de-semana ou de férias lá, às Fontainhas, e eles davam-nos muitas gorjetas! E até outros artigos, até roupas!”.
E foi com esse dinheiro (das gorjetas) que ia poupando que conseguiu fazer o seu enxoval.
Já na sua juventude, “gostava muito do bailarico, das festas e de andar a dançar”.
Recorda-se de ir a pé até à Santa Eufémia para se divertir. Conta-nos que quando chegava “a um sítio, tinha lá um rego que a gente lavava os pés, para não ir com eles sujos”.
Sobre aviso do pai, esta podia ir à festa mas tinha de chegar “antes de ser noite, antes do sol posto”. Durante o tempo que estava fora de casa, “a gente ia entregue a umas pessoas mais de idade e a gente às vezes vinha mais tarde” e, quando isso acontecia, diz-nos que “pegava e metia-me em casa da minha avó”.
Quando questionada sobre as festas e romarias, concorda connosco dizendo que estas eram bastante diferentes, recordando-se, sobretudo dos diversos carrosséis trazidos para a aldeia na Senhora das Amoras.
No que se refere à geração atual, Emília opina que “as gerações são boas...há de tudo.
Antigamente, também havia umas melhores e outras piores. Eu agora nem sei como se consegue estudar e fazer outras coisas, como vós conseguis.”, defendendo que “deviam dar mais valor” aos projetos e ideias dos jovens, referindo que estes “fazem coisas maravilhosas, mesmo na televisão…”.
Para finalizar, partilhou connosco a reza que diz muitas vezes: Senhor eu não sou digno que entreis na minha morada, mas dizei uma palavra e eu serei curada.

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