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No dia 26 de julho de 2022, Arminda Moreira foi entrevistada. Arminda tem 90 anos e é nasceu em Oliveira do Arda.

Arminda recorda a sua infância como sendo boa apesar de ter que trabalhar desde pequena.  Conta que quando tinha 10 anos o seu pai faleceu, recordando que o seu irmão mais novo ainda estava dentro da barriga da sua mãe e os acontecimentos que se sucederam e as dificuldades que ultrapassaram após a morte do seu progenitor.

Acaba por explicar sobre o comércio que existia nas Fontaínhas, nome que até hoje dá a esse local, onde atualmente se localiza o Octant Hotels Douro.

Arminda conta que quando ficou mais velha começou a ir para a Queiró com a sua mãe, explicando em que consistia o que elas faziam e o que ganhavam.

Mais velha ainda, Arminda recorda de ficar em casa enquanto o seu marido ia trabalhar para as Minas do Pejão, tal como acontecia com as outras famílias onde o homem ia trabalhar e as mulheres ficavam em casa. Conta que o marido ia a pé para o trabalho, primeiro para Germunde e depois para o Pejão, e depois do trabalho ainda ia trabalhar para os campos. Enquanto isso, as mulheres (tanto casadas como solteiras) que ficavam em casa iam para a Queiró, explicando como era o caminho até ao local onde iam trabalhar, e quanto ganhavam depois de deixar o que tinham recolhido nas Fontaínhas.

Fala-nos ainda do que comiam nas refeições, que era sopa e pão (explicando ainda como se faziam ambas), e do que cultivavam nos campos, desde couves, batatas, milho, entre outras. Recorda-se ainda dos preços que os alimentos estavam durante o tempo de guerra e a dificuldades que a sua família passou, porque não tinha muitos ganhos, e como ultrapassaram essas dificuldades. Nisto, ainda recorda-se sobre Jean Tyssen, devido a ser este que deu bastante trabalho às pessoas naquela época, e dizendo que o mesmo está sepultado no cemitério de Oliveira do Arda, juntamente com os mineiros.

Acrescenta ainda que antigamente existia mais trabalho, pois as pessoas trabalhavam de “(…) sol a sol (…)” e o esforço que as pessoas tinham de fazer, pois não existia os meios que existem hoje, dando até o exemplo de que o transporte do material para a casa que esta construiu juntamente com o marido foi transportado num carro a bois. Diz que o único dia que não se trabalhava era ao domingo, às vezes tinham que ir regar os campos ou lavar as roupas para os maridos irem trabalhar na segunda (explicando como funcionava o processo de lavar a roupa). Recordando assim que a vida antigamente era trabalhar, dando como exemplo o trabalho na madeira (explicando o processo desse trabalho, para o que servia e como era a sua rotina quando trabalhava no mesmo), acrescentando ainda que fazia esse trabalho sempre descalça. Nisto Arminda ainda diz “Oxalá que vocês não passem o que a gente passou (…)”, pois antigamente queriam ou precisavam de ter algo e não tinham.    

Ainda recorda que mais alguns pormenores de como foi a construção da sua casa e o que ela e a família dela (quando esta era casada e já tinha filhos) faziam e trabalhavam para terem o que comer, dizendo que depois de os seus filhos começarem a trabalhar que conseguiram ter mais qualidade de vida.

Conta que aos 15 anos chegou a ir para Arouca juntamente com uma prima vender uma espécie de peixe (chegando a dizer o nome da espécie e onde este era pescado), e que faziam esse caminho a pé. Acabando por explicar melhor o tipo de trabalho que havia para as mulheres e que a mesma fez.

Fala-nos ainda de como era a religião começando logo por afirmar que “A religião antes era trinta vezes melhor que a de agora (…)” justificando esta afirmação porque antes era algo mais sério, como por exemplo, quando o padre passava por alguém essa pessoa tinha que lhe pedir a bênção, que antes a capela estava sempre cheia e agora não, entre outras coisas. Recordando-se assim do padre que a casou, como funcionava a missa, que era de 15 em 15 dias, e de ter que fazer o caminho até à missa a pé. Ainda explica como funcionava a catequese antigamente e conta como era a sua catequista, recordando-se de uma frase que a sua catequista lhe dizia que ficou sempre na memória que era “Uma mulher que saiba governar, bota mais para dentro com uma adidal do que um homem para fora com um gancho” explicando logo de seguida o que a mesma significa e ainda acrescentando o seu exemplo para podermos verificar que de facto essa frase contém uma realidade.

Arminda ainda conta que as pessoas dançavam no meio do lugar ao domingo, pois não podiam dançar no adro porque o padre não deixava.

De seguida, esta demonstração a sua fé em Deus, afirmando que este sempre foi seu amigo, contando ainda algumas crenças que esta tem.

Arminda ainda afirma que acha que falta nesta geração muita coisa, como por exemplo, “(…) pedir a Deus, ir à missa (…), rezar, juntar-se todos, falarem uns com os outros, não fazer mal uns aos outros (…), não ganhar ódio (…)”, acabando por comparar a geração antiga com a atual, pois o que falta na atualidade eram coisas que a geração antiga fazia.    

Arminda ainda acredita que a falta de fé vai trazer consequências no futuro, porque acredita que se todos fossem unidos o mundo era melhor, afirmando que Deus está ofendido ditando a seguinte frase “Não ofendas mais a Deus que ele já está muito ofendido, a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos, manda Senhor trabalhadores para a tua messe” explicando melhor essa mesma frase. Afirma ainda que o que a ajudou durante toda a sua vida foi ter fé em Deus e na Nossa Senhora.

Para finalizar a entrevista, Arminda pede aos jovens que “ (…) vão à missa, que rezem, que se entreguem a Deus todos os dias, que se benzam (…) e coisas assim, que não tira que eles vão a uma festa e uma farra e uma banda qualquer, não tira nada disso (…)”, dando o seu exemplo dizendo que para ela Deus faz-lhe bem. Acaba por falar do terço que carrega sempre consigo dizendo que “É a minha alma (…) a minha alma é esta, ninguém lhe pega nem ninguém se mete comigo (…)”.

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